quarta-feira, 8 de abril de 2009

ESPECIAL: A RESPOSTA HISTÓRICA

"Aos 21 dias do mes de agosto de 1898, as 2:30 horas da tarde, reunidos na sala do predio da Rua da Saude numero 293 os senhores constantes do livro de presencas, assumiu a presidencia o Sr. Gaspar de Castro e depois de convidar para ocuparem as cadeiras de secretarios os senhores Virgilio Carvalho do Amaral como 1o. e Henrique Ferreira como 2o., declarou que a presente reuniao tinha o fito de fundar-se nesta Capital da Republica dos Estados Unidos do Brasil, uma associacao com o titulo de Club de Regatas Vasco da Gama (...)"

O COMEÇO

Em meados de 11 de novembro de 1915, o Vasco, que tinha como prática esportiva até então apenas o Remo, iniciava sua trajetória no futebol. Os clubes, também de origem portuguesa, Esportivo Portugues, Lusitano Football Club e o Lusitania Sport Club, unindo-se ao Vasco, levaram ao clube da cruz de malta o esporte mais falado naquela década, com influências de clubes portugueses. No dia 26 de novembro de 1915 criava-se, sem nenhuma resistência dos sócios mais tradicionais, o departamento de futebol do Vasco.

RACISMO? AQUI NÃO!

O nível do futebol do Vasco foi crescendo ao longo dos anos graças ao "atrevimento" de aceitar jogadores negros e mulatos no time. Apesar de ser basicamente um clube de colônia, o Vasco seguia a boa tradição portuguesa da mistura, ao contrário dos tradicionais grandes clubes de futebol do Rio. Estes não só recriminavam indivíduos de cor em seus quadros sociais como alguns chegavam ao extremo de admitir exclusivamente ingleses e seus descendentes dentro do departamento de futebol. São os casos de Paysandu, campeão de 1912 e do Rio Cricket (nome com influências inglesas).

Ao contrário dos grandes clubes de futebol do Rio, desde a sua fundação o Vasco esteve aberto a brasileiros de todas as origens e classes sociais, além dos portugueses, tendo tido, inclusive, um presidente mulato ainda na época do remo, Candido José de Araújo, em 1905 e 1906.

O Lusitania havia sido um clube fechado, só para portugueses, mas, ao ser absorvido pelo Vasco, foi a filosofia do cruzmaltino que prevaleceu. Para reforçar a sua equipe de futebol, o Vasco ia recrutando sem discriminação aqueles que se sobressaíam nas peladas de subúrbio e nos clubes pequenos. Assim, enquanto os jogadores dos aristocráticos (burgueses) clubes grandes eram praticamente todos brancos ricos, a maioria com nível alto de intelecto, os jogadores do Vasco eram de profissão humilde, sendo que alguns mal sabiam escrever (assinar) o próprio nome. Anos mais tarde, o clube chegaria até a contratar um professor de gramática, satisfazendo uma exigência da Liga - leia-se, dos clubes rivais, sempre a procura de pretextos para hostilizar o Vasco.

A ASCENÇÃO

Após lutas contínuas contra o preconceito e reformulações da Liga, o Vasco foi classificado, em 1921, para disputar a Série B do 'Campeonato Carioca'. O título da categoria de primeiros quadros da Série B de 1922 deu ao Vasco o direito de disputar a promoção à Série A numa partida, chamada na época de eliminatória, contra o último colocado da Série A, que tinha sido o São Cristovão. A partida terminou empatada e, por isso, a Liga decidiu aumentar o número de participantes da Série A em 1923 para dez. Assim, o Vasco subira para a elite do futebol carioca.

Vasco na Série B em 1921
Os Camisas Negras em 1921, de pé: Palhares, Carlos Cruz, Nélson, Ernani Van Erven, Adão Brandão e Alfredo Godói. Agachados: Leão, Dutra, Torterolli, Negrito e Fernandes.

A princípio, os clubes de elite nem ligaram para a entrada do Vasco na Série A em 1923. Afinal, o que poderia fazer um clube de segunda divisão, cuja maioria dos jogadores residiam em alojamentos, ao lado de um campinho de treinamento tão ruim que nem para jogos oficiais servia? Os portugueses do Vasco que botassem no seu time quantos crioulos quisessem, mas tudo continuaria como sempre foi, com os brancos vencendo os campeonatos e os pretos nos seus lugares, nos clubes pequenos.

Só que o Vasco, graças a um forte regime de treinamentos ministrado pelo técnico uruguaio Ramon Platero, seguiu durante todo o primeir turno sem perder nenhum ponto sequer. E quanto mais vencia, mais os estádios se enchiam de gente que nunca tinha visto um jogo do tal "football" antes. O desprezo se transformava em inveja e as torcidas adversárias se uniam, humilhadas por verem seus elitistas brancos superados por um time de negros rumo ao título invicto e frustradas por perderem dinheiro em apostas semanais com portugueses. O Vasco era um fenômeno.

Vasco campeão estadual em 1923.
Na foto, os guerreiros: de pé: Nicolino, Torterolli, Leitão, Ceci, Bolão, Negrito, Arlindo, Arthur, Mingote e Paschoal. No chão: Nélson.


A RESPOSTA HISTÓRICA

Com os grandes clubes da época (Flamengo, Botafogo, Fluminense, Bangu e América) desesperados e tentando evitar o bicampeonato do clube dos negros, tiveram eles a ideia de criar algumas condições para que os clubes pudessem disputar a Liga Metropolitana. Primeiro, alegaram que os clubes deveriam avaliar a situação social dos seus atletas. Com tal condição negada pela Liga Metropolitana, os grandes clubes partiram para um plano B afim de tirar as condições de conquista de título do Vasco da Gama. Criaram então a AMEA. Contudo, para que o time da cruz de malta ingressasse na AMEA, os clubes fundadores exigiram que o Gigante expulsasse de seu quadro social e de seu time os negros e mulatos que por hora, fizeram sucesso no campeonato de 1923. Medo? Pode ser. Foi aí, que num ato heróico, épico e que traz, até hoje, orgulho para os que amam o Vasco da Gama, que o Dr. José Augusto Prestes, então presidente do Vasco, redigiu uma carta endereçada à AMEA, conhecida mais tarde como "A resposta histórica". Confira:

Rio de Janeiro, 7 de Abril de 1924.
Ofício nr. 261

Exmo. Sr. Dr. Arnaldo Guinle
M.D. Presidente da Associação Metropolitana de Esportes Atléticos

As resoluções divulgadas hoje pela imprensa, tomadas em reunião de ontem pelos altos poderes da Associação a que V.Exa tão dignamente preside, colocam o Club de Regatas Vasco da Gama numa tal situação de inferioridade, que absolutamente não pode ser justificada nem pela deficiência do nosso campo, nem pela simplicidade da nossa sede, nem pela condição modesta de grande número dos nossos associados.
Os privilégios concedidos aos cinco clubes fundadores da AMEA e a forma por que será exercido o direito de discussão e voto, e feitas as futuras classificações, obrigam-nos a lavrar o nosso protesto contra as citadas resoluções.
Quanto à condição de eliminarmos doze (12) dos nossos jogadores das nossas equipes, resolve por unanimidade a diretoria do Club de Regatas Vasco da Gama não a dever aceitar, por não se conformar com o processo por que foi feita a investigação das posições sociais desses nossos consócios, investigações levadas a um tribunal onde não tiveram nem representação nem defesa.
Estamos certos que V.Exa. será o primeiro a reconhecer que seria um ato pouco digno da nossa parte sacrificar ao desejo de filiar-se à AMEA alguns dos que lutaram para que tivéssemos entre outras vitórias a do campeonato de futebol da cidade do Rio de Janeiro de 1923.
São esses doze jogadores jovens, quase todos brasileiros, no começo de sua carreira e o ato público que os pode macular nunca será praticado com a solidariedade dos que dirigem a casa que os acolheu, nem sob o pavilhão que eles, com tanta galhardia, cobriram de glórias.
Nestes termos, sentimos ter que comunicar a V.Exa. que desistimos de fazer parte da AMEA.
Queira V.Exa. aceitar os protestos de consideração e estima de quem tem a honra de se subscrever, de V.Exa. At. Vnr. Obrigado.

Dr. José Augusto Prestes
Presidente

Com motivos convincentes para desistir do futebol, o Vasco quis manter sua honra. Participou com os pequenos da Liga Metropolitana de 1924 e sagrou-se campeão.

COM DIGNIDADE, SÃO JANUÁRIO

Com a dignidade que é peculiar dos portugueses da colônia, o Vasco, desprezado pelos grandes clubes, tratou de unir seus sócios e simpatizantes e foi em busca de tornar o Gigante um clube de futebol legítimo, que é aquele que tem um estádio. Alguns dos nossos queridos amigos ainda não conseguiram tal façanha até hoje, 7 de abril de 2009.

Decididos a fazer do Vasco um clube grande, os vascaínos partiram então para a construção de um estádio, passando a angariar fundos entre 1924 e 1926. Listas corriam pela cidade, onde toda gente assinava, dando a contribuição que podia. O êxito foi tanto que, ao final de 1926, oito mil novos sócios tinham ingressado no clube. Em 1925, foi adquirido um terreno numa colina em São Cristovão, que havia sido ocupada no século XIX por uma chécara doada por D. Pedro I à Marquesa de Santos.

A construção do estádio coube a Cristiani & Nielsen. A pedra fundamental foi lançada no dia 6 de junho de 1926. Raul da Silva Campos era o presidente do Vasco. Menos de 11 meses depois, o clube entregava ao futebol brasileiro o estádio Vasco da Gama, mais tarde popularmente denominado de São Januário.

QUE HONRA SER! SAIBA SOU VASCAÍNO, MUITO PRAZER

Como diz a música da torcida cruzmaltina que exalta os guerreiros da década de 20 que, mesmo com situações adversas, provaram que a dignidade não está estampada na cor da pele nem na situação financeira dos indivíduos. O caráter, a vontade e a força de vencer estão naqueles que nela acreditam. E foi com esse pensamento que o Club de Regatas Vasco da Gama foi fundado e gerou, com muita honra, um dos maiores clubes de futebol do mundo. A música, linda por sinal, fala bem da conquista vascaína. Confira:

Eu vou torcer, aqui eu ergui meu templo para vencer
Eu já lutei por negros e operários
Te enfrentei, venci, fiz São Januário

Camisas Negras que guardo na memória
Glórias, lutas, vitórias essa é minha história
Que honra ser, saiba sou vascaíno, muito prazer

Jamais terás a cruz esse é meu batismo
Eu tive que lutar contra o teu racismo
Veja como é grande meu sentimento, e por amor ergui este monumento

É um orgulho poder vestir o manto cruzmaltino pelas ruas da minha cidade, do meu estado e do meu país. Levo com ela, com a cruz de malta no peito, a luta de operários e negros que decidiram se impor contra a aristocracia imperialista que dominava a capital nacional em meados de 20. Levo com ela os princípios de não desistir na adversidade, de persistir e dar a volta por cima, provando que, com vontade, dignidade e muita luta, pode se conquistar o mundo.

"Tua história traz orgulho a quem te ama, eu sou Vasco da Gama, pra sempre vou te amar"

Obrigado Dr. José Augusto Prestes. Obrigado guerreiros vascaínos que construíram nosso lar com o suor de seu trabalho. Obrigado a quem construiu esse clube tão amado e querido em todos os cantos do nosso país. Do fundo do coração, obrigado.

"Sem o Vasco, o mundo não teria conhecido Pelé", e complemento com: Barbosa, Ademir Menezes, Bellini, Orlando, Vavá, Roberto Dinamite, Bebeto, Romário, Edmundo entre outros que hão de se consagrar no futuro com a camisa do legítimo Gigante.


O SENTIMENTO NÃO PODE PARAR!

Saudações Vascaínas!

2 comentários:

  1. MAURICIO DE SOUZA ROSA24 de julho de 2011 às 08:20

    Meus olhos se enchem de lágrimas agradeço ao meu pai por ter me dado a opção de tatuar sua cruz em meu peito e não me deixar ser "mouro" comum e marcar a cruz da vitória em meu peito despertando este aomor pelo gigante da colina meu clube de coração ao me deparar com essa primeira das páginas da história do nosso clube entendi uma página linda dso nosso país ,esse amor é divulgado e cada um que nasce em nossa família é ungido com nossa cruz demalta obrigado por nos aceitar e criar uma identificação tão forte conosco a emoção de vestir a camisa de ver otime vencer não tem igual só compara ao nascimento de um filho, que ainda não tive saiba que é muito bom ser VASCO ,PARABENS AOS NEGROS PORTUGUESE ,E TODOS OS QUE ABRAÇAM E TAUTUAM ESSAS CRUZ DE VITÓRIAS EM SEU PEITO. CASACA SEMPRE!

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  2. muito fodaa, vaaaaasssscoooooooooooooooooo

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